Com a presença da mulher e dos dois filhos no plenário da Câmara, o deputado federal Natan Donadon (ex-PMDB-RO) fez um discurso de 40 minutos na noite desta quarta-feira (28) em que reafirmou ser inocente e em que relatou dificuldades que vêm passando nos dois meses em que está em uma cela individual na penitenciária da Papuda, no Distrito Federal.
Condenado a mais de 13 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal por desvios na Assembleia de Rondônia, Donadon obteve autorização da Justiça para ir ao Congresso. Ele relatou ter sido algemado com as mãos nas costas no camburão que o conduziu.
“Não fiz pagamentos ilegais, não desviei um centavo, pelo amor de Deus, façam justiça senhores deputados!”, disse o deputado, em tom inflamado. “Não sou ladrão, nunca roubei nada, é uma acusação injusta!”.
O plenário da Câmara vota nesta noite o pedido de cassação do mandato de Donadon. Para que haja a perda do mandato, são necessários os votos de pelo menos 257 dos atuais 512 deputados.
“Vim algemado de lá [Papuda] para cá, nunca tinha entrado em um camburão na minha vida. Sofri muito, é desumano o que um preso passa”, afirmou.
Donadon chegou ao plenário de terno e gravata, sem algemas, e com o broche de identificação dos deputados. Ele conversou com vários colegas e foi cumprimentado inclusive pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). O deputado ocupa no presídio da Papuda uma cela individual de 6 m² com cama, sanitário e chuveiro, na ala apelidada “Cascavel” –que abriga internos considerados perigosos.
Em seu discurso, ele disse que não pode tomar banho hoje porque a água do presídio teria acabado. “Não há chuveiro, é uma torneira de água fria.” Segundo disse, teve que recorrer a um balde de água de um vizinho de cela. Também relatou estar passando por dificuldade financeira, já que a Câmara cortou o seu salário e demais verbas desde que foi preso, em 28 de junho. “Tenho sofrido muito, até para alugar uma casa está difícil, minha mulher veio aqui pedir pelo amor de Deus”, afirmou, em referência ao apartamento funcional que sua família ainda ocupa em Brasília e que deverá ser desocupado em caso de cassação.
Sobre a condenação pelo desvio de R$ 8,4 milhões da Assembleia de Rondônia, ele disse que as acusações são absurdas e estão embasadas em afirmações “repletas de asneiras”. Segundo ele, os contratos de publicidade apontados como fantasmas pelo STF foram cumpridos. “Nunca fiz nada ilícito, sempre fui zeloso com o erário público”.
Donadon criticou também a imprensa, que segundo ele é sensacionalista e distorce os fatos. “A imprensa diz muita coisa, omite a verdade.”
Em sua fala, o deputado alternou momentos em que demonstrava ora emoção, ora indignação. Antes de sua fala, ele foi abraçar os familiares, momento em que chorou.
“Sou inocente, acreditem na minha verdade”, reafirmou o deputado aos colegas na tribuna. Não houve aplausos ao final de sua fala, que foi acompanhada em quase total silêncio pelos deputados.
Antes dele, falou o deputado Sérgio Zveiter (PSD-RJ), que relatou o parecer que pede a sua cassação. “A leitura do acórdão [decisão colegiada] do STF revela que a conduta pela qual o deputado Donadon foi condenado é gravíssima. Os fatos são verdadeiramente estarrecedores e não coadunam com o decoro parlamentar”, afirmou.
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