quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Setembro amarelo alerta contra o suicídio

Após 17 anos de um casamento feliz, Fernanda* não soube lidar com a dor da separação.  Ver a tristeza do casal de filhos, na época com 12 e 16 anos, aumentou seu sofrimento. Quatro anos após o divórcio, a filha mais nova resolveu morar com o pai.  O vazio do lar também tomou o coração de Fernanda, que entrou em depressão. Não queria mais viver. E, por isso, tentou se matar mais de 15 vezes, misturando álcool com remédios de tarja preta. Na última vez ingeriu chumbinho. Foi parar na UTI.

Se você, caro leitor, ao ler o parágrafo acima concluiu que Fernanda não queria morrer, mas apenas chamar atenção ou acredita que, se ela quisesse mesmo se matar teria pulado de um prédio, sinto informar, você sabe muito pouco (ou quase nada) sobre suicídio. Se o filho de Fernanda não tivesse compreendido que, na verdade, a sua mãe precisava de ajuda, talvez hoje ela não estivesse viva. 

“Eu não queria chamar atenção. Queria morrer mesmo. Sentia uma dor tão insuportável que nem morfina resolvia”, afirma Fernanda, que com o incentivo do filho, buscou ajuda psiquiátrica. “Aprendi a me amar e hoje sou feliz ao lado da minha família. Trabalho na mesma clínica onde fiquei internada por nove meses, de maio de 2012 a janeiro de 2013. Busco dar força aos que estão enfrentando o que passei”, afirma Fernanda, 50 anos. 



Para ajudar tantas outras “Fernandas e Fernandos” que precisam de apoio para superar o sofrimento, a Organização Mundial de Saúde (OMS) instituiu o Setembro Amarelo. Durante todo este mês, entidades não-governamentais pretendem promover ações para mostrar que é possível prevenir contra o suicídio, hoje considerado um problema de saúde pública. No Brasil, é registrada uma morte a cada 45 minutos. No Mundo, cerca de 800 mil pessoas se suicidam por ano, o que corresponde a uma morte a cada 40 segundos. E o mais triste é que 90% dos casos poderiam ter sido evitados.  

Além de vestir amarelo, o Centro de Valorização da Vida (CVV), entidade que atua gratuitamente na prevenção do suicídio há 53 anos em todo o País, prepara uma série de atividades para este mês. Em Pernambuco, voluntários farão panfletagem no Marco Zero (próximo domingo, dia 6) e na praia de Boa Viagem (feriado do 7 de Setembro). No próximo dia 10, Dia Mundial de Prevenção do Suicido, será promovida palestra no auditório do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ministrada pelo professor de filosofia Sérgio Ramos. Com o tema “Mantendo acesa a vontade viver”, a palestra tem entrada franca e começa às 15h. Inscrições devem ser feitas pelo e-mail recife@cvv.org.br. 

“O tema é tratado como tabu e isso só corrobora para aumentar os casos. Precisamos alertar a população para o problema. Um simples gesto de ouvir e ajudar a quem precisa pode salvar uma vida”, afirma Karina Soares, coordenadora do CVV em Pernambuco. Segundo Karina, o CVV conta com cerca de 50 voluntários no Estado, que realizam mais de 2.500 atendimentos ao mês. O serviço funciona 24h pelo telefone 141.  



COMO AJUDAR – A maioria das pessoas que pensa em cometer suicídio dá sinais que não devem ser ignorados por amigos e familiares, alerta a OMS. Doenças psíquicas como depressão estão associadas a muitos casos. "Mesmo que a pessoa não expresse claramente que pensa em se matar, é possível detectar algumas mudanças de comportamento. A depressão, por exemplo, altera a maneira de o paciente enxergar o mundo, mexe com sua cognição. Sentimentos de tristeza, pessimismo e angústia são constantes", explica o psiquiatra Everton Botelho, afirmando também que o uso de álcool e outras drogas são fatores de risco por serem “depressores”. 

Paula Fontenelle é autora de Suicídio: o futuro interrompido
Paula Fontenelle é autora de Suicídio: o futuro interrompidoFoto: Divulgação
O médico explica ainda que a primeira tentativa de suicídio deve ser considerada um pedido de ajuda. "Ao conversar com a pessoa, você não deve fazer críticas e nem julgamentos. Mostrar apenas que está disposto a ajudá-la e incentivar que procure um psiquiatra", orienta. Em relação à idade, os grupos de risco são jovens entre 15 e 29 anos e idosos com mais de 65 anos. “Os jovens têm mais dificuldade de enfrentar as cobranças de um mundo competitivo como o nosso. Já os idosos se deprimem com a solidão ou quando são acometidos de doenças crônicas e passam a achar que a vida não vale mais a pena”, explica o médico. 

Outros sintomas, considerados mais diretos e preocupantes, também podem ser percebidos através de conversas. “Valorizar demais o passado, se desfazer de objetos de valor sentimental, organizar a vida financeira e ligar para os amigos para se despedir são comportamentos de pessoas que podem estar perto de praticar o ato”, explica a jornalista Paula Fontenelle.  Após a morte do pai em 2005 por suicídio, a jornalista passou três anos buscando respostas que resultaram no livro “Suicídio: o futuro interrompido”. A obra traz opinião de especialistas, psicólogos, psiquiatras e relatos de famílias que perderam parentes e, ainda, de pessoas que reencontraram razões para viver.
Fonte:ne10.uol.com.br

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