sexta-feira, 4 de abril de 2014

Pesquisa Ipea errou: 26%, e não 65%, concordam que mulheres com roupas curtas merecem ser atacadas

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do governo federal, divulgou nota nesta sexta-feira na qual afirma que o resultado da pesquisa que provocou protestos, mobilizou artistas e autoridades, entre elas a presidente Dilma Rousseff, e teve ampla repercussão nas redes sociais, estava errado – grosseiramente errado. Ao contrário do que foi divulgado há nove dias, 26% e não 65% dos brasileiros concordam que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”.
Segundo o Ipea, houve uma troca nos gráficos da pesquisa. Os porcentuais corretos são: 26% concordam total ou parcialmente com a afirmação, outros 70% discordam e um grupo de 3,4% se diz neutro. Em nota, o órgão afirma também que “foram aplicados 3.772 questionários em 211 municípios de todas as unidades da federação" e que "os pesquisadores atuaram em períodos de até doze horas diárias, inclusive aos sábados, domingos e feriados”.
Lambança – Um erro de quase 40 pontos percentuais é uma lambança inaceitável para o mais simplório dos institutos de pesquisas, quanto mais para um órgão ligado ao governo. Após o reconhecimento do erro, o diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Rafael Osório, pediu demissão. Mas o estrago na imagem do Brasil está feito. A divulgação dos dados errados teve enorme repercussão. Deu origem a uma campanha – #eunãomereçoserestuprada – que em poucas horas viralizou nas redes sociais e foi parar em alguns dos principais veículos da imprensa internacional, como o jornal americano Washington Post e a rede britânica BBC. Neles, o Brasil foi retratado como um país onde a maioria das pessoas tolera o abuso sexual e culpa suas vítimas.
A lambança do Ipea, obviamente, não desautoriza uma campanha contra o estupro, crime que no Brasil tem mais vítimas que homicídio doloso (mais de 50 mil casos em 2012, segundo o Mapa da Violência). É justa a indignação que correu as redes – e ainda parece alarmante que 26% dos entrevistados concordem que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”, se é que se pode confiar nesse dado. Só não é papel do Ipea manipular a opinião pública, impressionar a imprensa internacional ou forjar campanhas.
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Nana Queiroz, idealizadora da campanha 'Eu não mereço ser estuprada'
Nana Queiroz, idealizadora da campanha 'Eu não mereço ser estuprada' - Reprodução

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