Evento, que começou quinta, 12, é um resgate da fé e da
tradição
dos tropeiros que, ao lado desses animais,
ajudaram a desbravar o
norte do país
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Mais de 150 muladeiros vindos de todas as cidades da região
estão em Presidente Médici a partir de hoje, até o próximo domingo, para o 3º
Encontro de Muladeiros do município que já é conhecido como a Capital Estadual
desse tipo de evento. Durante quatro dias, homens, mulheres e crianças deixam
seus afazeres de lado e dedicam-se única e exclusivamente à tarefa de percorrer
cenários paradisíacos – este ano o percurso será de 71 km entre diversos
trechos e distritos do município – atravessar o Rio Muqui por duas vezes,
reunir-se para almoçar, jantar e cantar juntos, em um modo bastante peculiar de
celebrar a vida. O encontro termina no domingo, em uma Prova de Laço no
Distrito de Castanheira, onde o senador Ivo Cassol já confirmou presença.
Coordenado por um pequeno grupo de amigos apaixonados pela
tradição, o Encontro de Muladeiros de Presidente Médici é, acima de tudo, um
evento familiar e que encontra entre representantes das mais diferentes
gerações abrigo para realizar um evento que a cada edição ganha maior número de
participantes e de infraestrutura. Através de doações de fardos de arroz e
também de carne – este ano foram quatro porcos pesando mais de 100 quilos cada,
três carneiros e três vacas – a alimentação dos participantes é farta e
gratuita, realizada em cada um dos pontos de parada já pré-determinados pelos
organizadores. “Prezamos pelo bem estar
e pela satisfação de nossos amigos que deixam suas cidades há centenas de
quilômetros daqui somente para prestigiar nosso encontro. E graças ao comércio
e a vários produtores rurais que nos acompanham desde a primeira edição,
conseguimos garantir a realização de um evento que deixa saudade”, contam
Cleiton Maltarolo e Marcelo Corá, dois dos coordenadores do Encontro. “E para
mim não há orgulho maior que ver meu filho Elias, já aos oito anos,
completamente “traiado” (vestido com todos os apetrechos de um muladeiro) em
sua mula e sendo o mascote do Encontro, além de minhas outras duas filhas e
enteada. Esta, aliás, tem alma e paixão de muladeira”, completa Maltarolo.
A força da Mula
Animais que se apresentam mais parecidos com os cavalos do que
com os jumentos, as mulas têm porte que varia do pequeno ao médio, orelhas
grandes (mas menores que as dos jumentos) e pelo curto. São muito resistentes,
dóceis e com grande capacidade de equilíbrio, atravessando, com agilidade,
trilhas estreitas, sinuosas, pedregosas, acidentadas e íngremes. Além disso,
possuem a audição bem apurada, grande sensibilidade em seus cascos; e olfato e
paladar mais rudes, permitindo com que sejam bem menos seletivos quanto à
alimentação. Graças a esses atributos, tais animais foram amplamente utilizados
no transporte de cargas, tais como alimentos e mercadorias; sendo, por isso,
tratados como indivíduos de grande estima.
Infelizmente, a urbanização e modernização do transporte de
cargas fizeram com que esses eqüinos perdessem seu prestígio, assumindo o
sinônimo de atraso. Sua longevidade permite-lhes trabalhar por mais de 35 anos
e em alguns casos, por até 47 anos. São praticamente imunes a aguamentos e
apresentam inteligência superior aos seus primos, os cavalos. Os muares,
animais de grande importância na história do Brasil, nunca poderão ser
esquecidos.
Graças ao trabalho de burros e mulas, o Brasil cresceu,
evoluiu e se desenvolveu. Sobre o lombo dos resistentes burros e mulas, foram
transportados alimentos, mercadorias diversas e, até mesmo, armas e munições. E
não para por aí, os muares trabalharam arduamente no transporte das maiores
riquezas do Brasil colonial que foram o ouro das minas, o açúcar dos engenhos e
o café das fazendas. Posteriormente, sua utilização foi estendida para o
preparo do solo e a lida com o gado.
(Wilson Guedes – MTB 4723 MG)
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