A tabeliã Fernanda Leitão (primeira mulher à esquerda) celebroua primeira união poliafetiva de um homem, Leandro, e duas mulheres,Yasmin e Thais, do Rio (Foto: Simone Goldstein/ Divulgação) |
Para Leandro, dividir a vida com duas mulheres – a desempregada Thais Souza de Oliveira, de 21 anos, e a agente de negócios Yasmin Nepomuceno da Cruz, de 21 anos – é uma questão de hábito e maturidade. E olha que no caso dele são três mulheres, já que ele tem uma filha biológica de 2 anos com Thais.
“Minha mãe acha que é uma tarefa difícil. Mas é como digo para ela: é tudo uma questão de costume, de adaptação. Se você coloca três ou quatro cães que não se conhecem diante de um bife, eles vão se morder e brigar pelo bife, porque não conseguem se comunicar. Com o ser humano é diferente, a gente conversa e tenta se entender. Não vejo como não pode funcionar”, explica Leandro, que vive maritalmente com as duas mulheres na mesma casa há dois anos e meio.
Bem tranquilo, o funcionário conta que já tinha experiência com relacionamento múltiplo. Ele e a mulher com quem foi casado por 11 anos já se envolviam com outras pessoas, até que há cinco anos ele conheceu Thais. Leandro expôs a situação, contou que era casado, e a jovem topou encarar o relacionamento a três. O convívio durou dois anos.
“Não vou dizer que não deu certo, porque vivemos em harmonia durante 11 anos. Fomos muito felizes, mas houve um desgaste natural na relação. Hoje ela é casada com outra mulher e vive muito feliz. Somos muito amigos”, contou Leandro.
as a relação entre ele e Thais logo ganhou uma nova integrante. Cerca de um mês depois da separação da primeira mulher, em setembro de 2013, ele conheceu Yasmin. Conversa vai, conversa vem, ela contou que já tinha se relacionado com mulheres, e ele a convidou para integrar a sua nova família.
“Ela disse que tinha curiosidade de saber como era essa relação e veio morar com a gente. Foi um processo muito natural. E hoje já estamos os três juntos há dois anos e meio. Não vou dizer que não há confronto. São pessoas com gostos diferentes, que pensam diferente, mas nos entendemos muito bem. Tudo é uma questão de saber ceder (...) Rola ciúmes externos, de gente da minha faculdade, por exemplo”, diz Leandro, que cursa psicologia.
Ele conta que tudo na pequena casa,de apenas um quarto, em Madureira, no Subúrbio do Rio, é dividido, mas não com o rigor de 50% para cada uma. Todos têm tarefas.
“Não é porque dei um beijo em uma que a outra também tem de ganhar um beijo. Não é assim que funciona. Mas procuro ser o mais justo possível com elas”, explica o funcionário.
Agora, depois da união oficializada, e da lua de mel curtida no fim de semana em Miguel Pereira, no Sul Fluminense, os três vão esperar a situação financeira se estabilizar para pensar em mais um filho. Thais está em vias de conseguir novo emprego e, no ano que vem, vai fazer vestibular para biologia. E Yasmin vai concluir o curso de técnico de enfermagem. Desta vez, o papel de mãe caberá à Yasmin.
Estranhamento é uma palavra que não faz parte do cotidiano do trio. Segundo Leandro, vizinhos, amigos, colegas de trabalho aceitam bem e respeitam o relacionamento deles. Os colegas de faculdade reclamaram que não foram chamados para a oficialização da união no cartório. Mas as famílias de Thais e Yasmin, mais conservadoras, têm pouco contato com o genro.
“Também espero, ainda em breve, conseguir juntar as famílias. A minha família, que é evangélica, depois de uma década já se acostumou com meu relacionamento. Minha mãe, quando soube da oficialização da união, me desejou boa sorte. Conheço cada família e sei que são pessoas maravilhosas, mas elas ainda não aceitam bem nossa união”, lamentou Leandro.
Ele faz questão de frisar que a tabeliã Fernanda de Freitas Leitão, do 15º Ofício de Notas, foi fundamental para a união. Ele a procurou depois de saber que ela tinha realizado a união estável de três mulheres em outubro de 2015.
“Ela foi fantástica com a gente, nos acolheu super bem. Ela tem um trabalho muito importante no que diz respeito a união homoafetiva e poliafetiva e muito nos ajudou, nos deu todo o apoio. Queria muito oficializar a união por dois motivos: para dar segurança ao nosso relacionamento no que diz respeito a questões previdenciárias, de plano de saúde, e tornar a nossa união legal, e também por uma questão ideológica, de mostrar que o diferente também pode ser legal e tem de ser respeitado, tem direitos e deveres”, enfatizou.
Mesmo com a união oficializada entre os três, Leandro diz que o relacionamento não está livre de que mais uma pessoa integre a família. Mas, como heterossexual, diz que isso só será possível com uma mulher. Homem nem pensar.
“As meninas se curtem, então entrar uma outra mulher, não feriria ninguém. Mas sou hétero. Um outro homem não seria legal, iria causar desconforto. Não é preconceito, mas uma questão de gosto. E eu não gosto”, concluiu Leandro.
Fonte:G1
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