terça-feira, 14 de outubro de 2014

Urnas revelam surpresas e decepções

No último domingo, 5, as eleições sepultaram algumas lendas vivas da política rondoniense. O exemplo maior é o ex-governador José Bianco (DEM), que passou pelo maior vexame desde o início da sua extensa vida política, iniciada 32 anos atrás, quando foi eleito deputado e primeiro presidente da Assembleia Legislativa de Rondônia.
O ex-governador obteve 8702 votos. Um fiasco. Aliás, no Brasil todo o partido liderado em Rondônia por Bianco, o DEM, está se encolhendo. Em 1998, ainda com o nome de PFL, chegou a ser a maior bancada na Câmara Federal; agora, passa à nona bancada, com apenas 22 deputados eleitos.
Na outra ponta, porém, é dos quadros do DEM – o partido em extinção – o deputado estadual eleito com mais votos em Rondônia. Adelino Folador obteve 19.151 sufrágios.
PT SAUDAÇÕES – Além de Bianco, outros nomes tradicionais e históricos sofrerem o revés das urnas. E em o todos os partidos. O PT, por exemplo, obteve a pior votação de sua história em Rondônia desde 2002. Naquele ano, ápice da legenda na “onda Lula”, os petistas elegeram uma senadora, dois deputados federais e dois estaduais. Na eleição seguinte, em 2006, manteve o número de federais e dobrou a bancada na Assembleia Legislativa. Além disso, fez a maior votação para o governado do Estado, cerca de 26% dos votos válidos, com o nome de Fátima Cleide. Em 2010, já com Eduardo Valverde candidato ao governo, conquistou 120 mil votos (18,16%) e elegeu dois federais e quatro estaduais.
Em 2014, o deputado federal Padre Ton fez birra e bateu o pé para ser candidato a governador, contrariando as orientações do diretório nacional. Rejeitou ser candidato a vice-governador do PMDB de Confúcio Moura, se impôs candidato, não conseguiu nenhum partido aliado, fez chapa “puro sangue” e sacrificou a todos, terminando com 12,64% dos votos. Não elegeu sequer um deputado federal e viu cair em 50% as cadeiras ocupadas pelo PT na Assembleia.
Além da derrota de Pedre Ton, outras lideranças petistas no Estado também ruíram. A ex-senadora Fátima Cleide, que já foi o principal nome do PT no Estado, ficou com 17.889 votos para federal e o ex-prefeito da Capital, Roberto Sobrinho, logo atrás, com 16.811.
EM BAIXA – Necessariamente, não foram apenas os derrotados pelas urnas que “caíram”. Alguns eleitos, a exemplo de Marinha Raupp (PMDB), também acabaram atingidos com a perda de popularidade. Mesmo novamente a mais votada do Estado, a parlamentar, que atingiu 61.419 votos, ficou muito aquém de 2010, perdendo quase 40 mil eleitores. Deputado de cinco mandatos, Marinha praticamente empatou com os novatos Marcos Rogério (PDT) e Mariana Carvalho (PSDB).
Ainda no PMDB, agora para a Assembleia Legislativa, o maior vexame foi protagonizado pelo deputado estadual Zequinha Araújo, que de segundo mais votado em 2010 – com 20.903 votos –, terminou o pleito deste ano não eleito, atingindo 6.669 sufrágios.
CASSOL, O ÚNICO – Uma coisa é certa: Na família de Cassol o único bom de voto é Ivo. Eleito prefeito de Rolim de Moura, governador e senador sem interrupções, desde 1996, Ivo tentou emplacar nas eleições do presente ano sua mulher, Ivone, e sua irmã, Jaqueline, para o Senado e o Governo, respectivamente. O projeto resultou um fracasso. Apesar da campanha extremamente bem estrutura e da presença do senador no horário eleitoral desqualificando as pesquisas de intenções de votos, o fato é que as urnas comprovaram que o sobrenome Cassol é muito forte na política desde que acompanhado do prenome Ivo. E não é de hoje. O pai dele, Retitário, encerrou a vida eleitoral em 1996 como candidato a prefeito de Vilhena com 600 votos. César Cassol, o irmão, perdeu para deputado estadual até quando Ivo foi sacramentado governador pela primeira vez, em 2002, e só chegou à prefeitura de Rolim em 2012, depois de sucessivas derrotas e uma administração desastrosa do prefeito antecessor, o peemedebista Tão Serraia.
HERDEIROS – Apesar de no caso de Cassol o sobrenome não ter pesado na decisão da maioria dos eleitores, o mesmo não pode se dizer em relação a outros clãs. No PSDB o pimpolho Jean Oliveira foi reeleito deputado estadual sob o espólio do pai, ex-presidente da Assembleia Carlão de Oliveira. Também foi eleita Rosângela Donadon (PMDB), mulher do ex-deputado Marcos Donadon (PMDB), preso há dois anos.
No plano federal, têm-se os exemplos de Mariana Carvalho, filha do ex-vice-governador Aparício Carvalho (PSDB); e o Expedito Netto (SDD), filho do candidato a governador Expedito Júnior (PSDB).
NA TRAVE – Pior do que perder eleições é “quase ganhar”. O Cone Sul tem dois bons de voto que ficaram de fora por um triz na corrida para a Assembleia. Ambos do PMDB, Chiquinho da Emater (8.946 votos), de Cabixi, e Ezequiel Neiva (10.106 votos), de Cerejeiras, obtiveram mais votos do que muitos dos eleitos. Agravante: com Ezequiel é a segunda vez que isso acontece. Desta vez, com somente 169 votos, ele teria pego a vaga de Léo Moraes (PTB).
ARTISTAS – “Astros” da TV rondoniense não apresentaram bom desempenho nas urnas. Rondônia teve vários candidatos que aparecem na telinha como apresentadores e repórteres. Exemplo disso é o veterano apresentador da Rede TV! Euclides Maciel (PSDB), deputado de dois mandatos que agora ficou de fora. Edvaldo Soares (PMDB), sucesso na Band de Ji-Paraná, que já é deputado e também não foi reeleito; Santana (DEM), o mais barulhento de todos os apresentadores da TV Jaru; o colunista social multimídia Valdecy Tergon (PSDC). Houve vários outros nomes ligados à mídia: Silvia Cristina (PDT), Everaldo Soares (PTB) e Ivonete Gomes (PSC). Apenas um se salvou: Aélcio da TV (PP) foi eleito 9330 votos; ele apresenta um programa popular na Band em Porto Velho, onde atualmente é vereador.
SANTOS DE CASA – Para o governo, é possível ver o nível de aceitação de cada candidato em seu próprio município de origem. E a conclusão a que se chega é que, em Rondônia, santo de casa também faz milagre, contrariando o adágio. Em Ariquemes, terra do governador Confúcio Moura, ele obteve 25.864 votos (55%) – mais que o dobro do segundo colocado, Expedito Júnior (12.005). Já na pequena Alto Alegre dos Parecis, cidade de Padre Ton, o sacerdote-candidato, sua votação foi de 2.221 votos (38%), seguido por Expedito, Jaqueline e Confúcio – nesta ordem. Curiosamente, foi a única cidade em que Ton venceu e a única em que Confúcio ficou em quarto lugar (899 votos = 14,73%).
Rolim de Moura é reduto de dois dos então candidatos ao governo: Expedito e Jaqueline. Lá, o tucano foi bem, com 10.810 votos (42%). Mas a outra “santa de casa” foi muito mal. Teve cerca de 10% dos votos, ou apenas 742 no total, mesmo com toda sua família morando na cidade, que é administrada pelo irmão, prefeito César Cassol.
NOVATOS – Em eleição, assim como há quem "vence perdendo", tem quem "perde ganhando". Uma surpresa, positivamente, nestas eleições foi Aluízio Vidal, que a bordo do nanico PSol, obteve 77.875 votos para senador. Mesmo em quarto lugar, foi uma votação consagradora para quem mal fez campanha. Da pequena Espigão do Oeste, outra novidade: o jovem advogado Aécio Barbosa (PDT), com 27 anos de idade e poucos recursos, fez 15.900 votos para deputado federal. Não foi eleito, mas se viabilizou para prefeito daqui a dois anos.
por Júlio Olivar

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